
As melhores práticas de ESG na indústria farmacêutica!
O ESG na indústria farmacêutica mobiliza diversos fatores, passando por toda a cadeia, da indústria ao varejo.
No varejo, por exemplo, o tema foi um dos insights debatidos no Master Class, um evento 100% digital, promovido pela Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias), que reuniu em maio cerca de 1000 líderes e gestores do varejo e da indústria farmacêutica nacionais, nos dias 25 e 26 de maio.
Sob o tema “Liderança e gestão em tempos de incertezas e transformação”, discutiram-se os novos contornos dos conceitos de gestão que se moldaram durante a pandemia e se perpetuarão no pós-pandemia.
O conceito de Environmental, Social and Governance (ESG), por exemplo, passa a ser visto como competência essencial, e não se pode falar de liderança e gestão sem falar de ESG.
“O conceito de sustentabilidade não é novo. Suas discussões tiveram início em 1972, em uma Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente. Desde então, este tema só vem ganhando maior abrangência e mais força não somente nos órgãos regulamentadores, mas também no mercado financeiro”, explica Jéssica Costa consultora em Supply Chain da AGR Consultores.
“Prova disso é que temos, inclusive, índices específicos nas Bolsas de Valores, critérios para aprovação de crédito no mercado, que prezam por estes aspectos”, diz a consultora.
Afinal, o que é ESG?
O “E” da sigla está relacionado a medidas ambientais, e a mudança climática tem sido o maior foco para os investidores, além da preocupação com as emissões de gases de efeito estufa, qualidade do ar e gestão da água.
O “investimento verde” foi impulsionado na década de 1990, quando alguns investidores passaram a focar nos setores que usavam práticas de negócios ambientalmente conscientes.
O “S” da sigla refere-se a medidas sociais e remonta aos anos 60 e 70, com o movimento dos Direitos Civis e da Guerra do Vietnã. Em 1972, um dos pioneiros na defesa do investimento sustentável, Milton Moskowitz, criou uma lista de “ações socialmente responsáveis”, incluindo os primeiros fundos sustentáveis.
No último ano, o investimento social volta à tona em defesa do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) e dos efeitos devastadores da pandemia da Covid-19 sobretudo em grupos raciais e étnicos minoritários.
Empresas farmacêuticas levantaram a voz em junho passado contra as desigualdades raciais, violência policial e racismo sistêmico. “Os líderes na comunidade empresarial podem ser uma força unificadora. Eles podem ser uma fonte de oportunidade”, disse Ken Frazier, então CEO da Merck e o único executivo-chefe da indústria farmacêutica afro-americano.
Já o “G” em ESG, ou governança, diz respeito às políticas de gestão da companhia, quem atua no conselho, remuneração dos executivos, até políticas anticorrupção e de prevenção de práticas ilegais, como fraude e suborno (compliance). Ou seja, é crescente a preocupação com a transparência e com a honestidade nos negócios.
ESG na Indústria Farmacêutica
O interesse corporativo em agregar aspectos ESG só aumenta, e esse novo parâmetro dá as cartas na indústria farmacêutica, que tem como maior gargalo o preço dos medicamentos. Esse aspecto influencia as avaliações ESG, pois dificulta a acessibilidade aos produtos.
Relatório ESG produzido pelo grupo de inteligência de mercado Alva, para o portal Fierce Pharma, analisou e pontuou os 26 tópicos ESG padrão diferentes para 20 empresas farmacêuticas de 1º de janeiro a 30 de abril. A seguir, listamos o ranking das 10 maiores empresas farmacêuticas ESG em 2021 e seus aspectos de maior destaque.
As 10 maiores empresas ESG na Indústria Farmacêutica em 2021
1. Boehringer Ingelheim
A Boehringer Ingelheim obteve a melhor classificação entre as empresas farmacêuticas para ESG no início de 2021, com uma pontuação Alva de +49 em uma escala que vai de -100 a +100. Teve notas altas em diversidade e inclusão e também em direitos humanos e relações com a comunidade.
- Engajamento de funcionários, diversidade e inclusão
- Direitos humanos e relações comunitárias
- Qualidade e segurança do produto
2. Biogen
A Biogen se saiu melhor do que a maioria das farmacêuticas na categoria de acessibilidade. O aducanumab, medicamento da Biogen para o Alzheimer, foi aprovado em 7 de junho, mas foi aprovado após o período de avaliação ESG de Alva. A capacitação econômica também faz parte do plano da Biogen, que já depositou US$ 10 milhões no OneUnited Bank, o maior banco de propriedade de negros na América, para apoiar seu foco na capacitação econômica dos negros.
- Engajamento, diversidade e inclusão do funcionário
- Direitos humanos e relações comunitárias
- Gestão de água e esgoto
- Acessibilidade
3. Astellas
Astellas foi uma das duas farmacêuticas — Boehringer Ingelheim foi a outra — entre as 10 principais empresas que não obtiveram nenhuma cobertura negativa significativa no período de estudo ESG de Alva. Isso é relevante, considerando que os aumentos anuais dos preços dos medicamentos em janeiro são um problema para a reputação das empresas farmacêuticas, pois são amplamente cobertos pela mídia e classificados pela GoodRx.
- Engajamento, diversidade e inclusão do funcionário
- Direitos humanos e relações comunitárias
- Qualidade e segurança do produto
- Comportamento competitivo
4. Novo Nordisk
Novo Nordisk relata seus esforços ESG, mantendo um portal online detalhando 18 categorias diferentes, cobrindo questões que vão desde o consumo de energia e água até a ética nos negócios e os direitos humanos.
- Engajamento do funcionário, diversidade e inclusão
- Direitos humanos e relações comunitárias
- Qualidade e segurança do produto
- Acesso e acessibilidade
5. Novartis
A Novartis teve uma boa pontuação em acesso a medicamentos. A Novartis publica seus esforços anuais de ESG em seu relatório “Novartis in Society”. Ao apresentar os últimos esforços da Novartis para 2020 no relatório, o presidente Joerg Reinhardt escreveu: “Essas medidas demonstram a importância crescente do ESG para o conselho de diretores e a alta administração da Novartis. Metas ambiciosas são necessárias para reduzir a poluição e apoiar a equidade na saúde em escala internacional.”
- Comportamento competitivo
- Saúde e segurança do funcionário
- Acesso e preço acessível
6. Amgen
A Amgen relata seus esforços ESG em seu site nas categorias governança corporativa, responsabilidade, meio ambiente e diversidade e inclusão e pertencimento.
Ele também publica um relatório anual, que em 2020 destacou o valor de US$ 1,5 bilhão em medicamentos doados por meio de sua Amgen Safety Net Foundation, 24 milhões de alunos atendidos no ano passado por meio de programas de educação científica da Amgen Foundation e sua promessa de carbono neutro.
Em janeiro, a Amgen prometeu gastar US$ 200 milhões para mudar a neutralidade de carbono, reduzir o uso de água em 40% e o descarte de resíduos em 75%.
- Direitos humanos e relações com a comunidade
- Gestão da cadeia de abastecimento
- Gestão de energia
- Acessibilidade
7. Gilead
- Engajamento do funcionário, diversidade e inclusão
- Acesso
- Acessibilidade
8. Bayer
A empresa ganhou recentemente o reconhecimento da Parceria Público-Privada das Nações Unidas por seu programa Better Life Farming, que apoia pequenos agricultores na Indonésia, Índia e Bangladesh.
- Direitos humanos e relações comunitárias
- Engajamento do funcionário, diversidade e inclusão
- Gestão da cadeia de abastecimento
- Qualidade e segurança do produto
- Acessibilidade
9. Roche
- Design de produto e gerenciamento do ciclo de vida
- Privacidade do cliente
- Segurança de dados
- Práticas de venda e rotulagem de produto
- Acesso e acessibilidade
10. Sanofi (empate)
A aprovação da Sanofi em medidas que incluem comportamento competitivo, práticas de vendas e rotulagem de produtos compensou algumas pontuações negativas em áreas como acessibilidade e gestão da cadeia de suprimentos.
Uma das melhores pontuações da Sanofi foi conquistada em parte por sua promessa de fabricar 125 milhões de doses da vacina Covid-19 da Pfizer e da BioNTech em sua fábrica em Frankfurt, Alemanha.
- Comportamento competitivo
- Práticas de venda e rotulagem de produtos
- Acesso e acessibilidade
- Gestão da cadeia de suprimentos
10. Takeda (empate)
A farmacêutica japonesa também comprometeu US$ 3,85 milhões ao longo de cinco anos para trabalhar com o Children’s National Hospital Rare Disease Institute em Washington DC, em um programa de protocolo clínico inédito, que tem como objetivo padronizar o processo de diagnóstico e atendimento às pessoas com doenças raras.
- Comportamento competitivo
- Gestão da cadeia de suprimentos
- Direitos humanos e relações com a comunidade
- Acessibilidade
ESG veio pra ficar?
As práticas e políticas nas áreas ambiental, social e de governança das empresas não são uma chuva passageira de verão. O tema está na mesa de gestores e também de investidores.
“O ESG é uma tendência mundial e veio pra ficar. Basta observar a movimentação de instituições financeiras, incluindo bolsas de valores e startups que estão nascendo para cumprir fins específicos de ESG. As empresas que não estiverem se auto avaliando e fazendo deste assunto uma agenda prioritária estarão arriscando sua própria sobrevivência”, afirma Priscila Saad, consultora em Supply Chain da AGR Consultores.
“De redução de riscos de autuações, fraudes e sustentabilidade do negócio a aumento de clientes que privilegiam suas compras de produtos ou serviços de empresas alinhadas a boas práticas de ESG, os benefícios são inúmeros”, complementa Jéssica Costa, sócia e head de projetos de eficiência operacional.
A preocupação das empresas com a tríade formada pela sustentabilidade, bem-estar social e boa governança corporativa, que caracteriza a “nova onda verde”, pode impactar diretamente nos investimentos.
De acordo com o estudo de Mudanças Climáticas Globais e Serviços de Sustentabilidade da EY Financial Accounting and Advisory Services 2018, com investidores institucionais, há um consenso global de que os fatores ESG são determinantes para os acionistas e investidores tomarem decisões para impactar e gerar valor de longo prazo aos que podem ser afetados pela companhia. Investidores vão além das informações sobre o desempenho financeiro das empresas.
Segundo Priscila Saad, a importância das melhores práticas em ESG tem aumentado progressivamente. “Clientes e consumidores estão valorizando com maior intensidade e se conscientizando sobre as posturas e ações empresariais e de seus representantes”, afirma.
“Desta forma, o espaço para atuação das empresas que miram tão somente a sustentabilidade financeira de seu negócio está ficando diminuto”, conclui.
Onde está o fio da meada do ESG?
Priscila Saad explica que as práticas de ESG contam com ações voltadas para o meio ambiente, sustentabilidade econômico-financeira, responsabilidade social e governança corporativa, esta última, baseada, e não somente, na lei da FCPA – Foreign Corrupt Practices Act, estabelecida nos anos 70, mas que explodiu nos anos 2000 com escândalos midiáticos de empresas multinacionais renomadas.
E onde toda essa história começa nas organizações? “Pelo assertivo e profundo mapeamento e conhecimento dos processos”, afirma. A começar pela identificação franca das fragilidades e oportunidades internas, construção e apropriação da matriz de riscos e o estabelecimento de estratégias e planos de ação de curtíssimo a longo prazo, garantindo a melhoria contínua.
“Queremos ressaltar hoje que, mesmo para temas de alta complexidade e abrangência como o ESG, tudo começa no básico, em olhar para dentro de nossas organizações, de forma honesta e transparente, desafiando o próprio modelo, o mindset e times. Sonhar alto e traçar um caminho orientado para o cumprimento destes objetivos é responsabilidade de todos nós e dá para crescer de forma ética e sustentável”, finaliza.




